Num dia de tédio, decidi visitar Frexeiras, um povoado que graças a expansão imobiliária está quase se tornando um bairro (tomara que não) da cidade de Garanhuns — PE. Não estava preparado para o que estaria por vir, há poucos quilômetros da minha casa, lá estava, diante meus olhos, o passado e o presente juntos, como numa ficção científica, cores, cheiros, sons, um mar de possibilidades fotográficas. Câmera na mão, chuva, barro e lama, pessoas simples de um lado para outro, naquela cidadezinha de duas ruas, e um cotidiano de encher os olhos de qualquer matuto da cidade grande. As cores da feira são fantásticas, assim como seus produtos rústicos que me faziam acreditar cada vez mais que estava num espaço tempo diferente, com uma Nikon D7000 armada com uma 50mm eu estava feliz, sabia de certeza que dali por diante o que não faltaria seriam cliques. A tradição, forte, netos e avós trabalhando juntos, comprando juntos, festejando juntos, como se independente das mudanças sociais das épocas, ali, no espaço tempo de Frexeiras, não estaria em prática. A fé, ah… a fé, se deixarmos de lado a história, e o tanto de mal que a igreja fez pra sociedade, sobra-lhe, as cores, as formas, a esperança e a cultura, belíssima na fenda do tempo, os olhares em reverência, os passos cautelosos, chegáva na casa principal. Numa casa construída por escravos, habita o lar da santa Quitéria, padroeira e mãe de todos que a visitam, colocada num altar, com paredes revestidas de fotografias de entes queridos, agradecidos pelos milagres ou em memória dos que já partiram, os fiéis passam por baixo desse mesmo altar, duas vezes, para que seus desejos sejam atendidos, senhoras, senhores, crianças que por muitas vezes nem sabem o que estão fazendo ali, enfrentam uma fila, se agacham e passam com fé, a certeza que será atendida, e isso, por mais ateu dos olhares, é lindo. As imagens, histórias petrificadas, livros em três dimensões. E debaixo de chuva o dia se encerra, com as chamas das velas acesas como a cultura que deus e santa Quitéria protejam por muitos e muitos anos, séculos, o quanto possam resistir a política local que só destrói a cultura Garanhuense.
Date Taken: | 01.2018 |
Date Uploaded: | 11.2018 |
Photo Location: | Garanhuns - PE - Brazil, Brazil |
Copyright: | © Vinicius Vilela |